HISTÓRICO DO SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA EQUATORIAL
A história da educação teológica batista no Brasil iniciou com a chegada dos missionários americanos da Junta de Missões Estrangeiras (Foreign Mission Board) da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos (Chamada na época de Junta de Richmond). Ao chegarem ao Brasil, eles se dividiram em três agências missionárias: Missão Batista do Norte do Brasil (sede em Recife, PE), Missão Batista do Sul do Brasil (sede no Rio de Janeiro, RJ) e Missão Batista Equatorial (sede em Belém, PA). Cada uma dessas agências procurou desenvolver suas atividades religiosas com ações pioneiras nas áreas da educação, da saúde e do apoio social. Com isso, foram criados orfanatos, hospitais, escolas e institutos de educação para formação de líderes religiosos, nas duas últimas décadas do século dezenove. A insistência da atuação estratégica dos missionários nas áreas da saúde e da educação se justificava pela difícil aceitação do novo grupo pelas instituições públicas educacionais e hospitalares no Brasil, com forte influência católica. O desenvolvimento destes projetos educacionais e de saúde pública tinha a intensão de promover um espírito liberal (das liberdades e das garantias individuais) e de respeito pelas diferenças de credo e etnia na sociedade brasileira (SILVA, 2004). É neste contexto do Brasil secular, mas predominantemente católico, que se iniciam as atividades de ensino teológico batista.
A inserção batista no Pará é atribuída ao Missionário sueco Eurico Alfredo Nelson e sua esposa Ida Nelson, no ano de 1891. Esta temática foi discorrida por Ezilene Ribeiro (2016), ao tratar da chegada destes dois batistas num ambiente majoritariamente católico, tendo enfrentado muitas dificuldades de permanência na região amazônica. Diante disso, o casal desenvolveu métodos de evangelização, através da pregação a marinheiros doentes de febre amarela, cultos domésticos à noite, colportagem, entre outros. Nos anos iniciais de sua atuação, Eurico Nelson não demonstrou muita preocupação com o preparo formal de liderança. Isso se deve ao fato de que ele próprio não tenha chegado à região com essa
formação. Porém, com o passar dos anos surgiu a necessidade de formação teológica dos novos líderes.
A história do Seminário Batista Equatorial tem início na Assembleia Anual da Missão Batista do Norte (MBN), em 1949, na cidade de Recife. Diante das grandes necessidades de lideranças locais, o missionário Clem Hardy propôs a criação de um Instituto Teológico para a formação de líderes que atuassem na expansão do Evangelho no extremo norte brasileiro. Na época, cogitou-se três locais: Santarém (PA), Carolina (MA) e Belém (PA). Todavia, a cidade de Santarém não possuía a infraestrutura necessária, além de apresentar dificuldade para o deslocamento de professores e alunos de outras localidades. Ademais, a Junta de Missões Nacionais já mantinha um Instituto Bíblico em Carolina (MA), o que levou o Dr. L. M. Bratcher, então secretário executivo da Junta, a defender que seria mais razoável desenvolver aquele Instituto do que de criar outra instituição teológica em Belém. Tais argumentos fizeram com que a Missão Batista Equatorial fosse duas vezes à Carolina para estudar o assunto, constatando as boas instalações e o excelente corpo docente que ali atuava.
Apesar de todos os aspectos favoráveis ao investimento em Carolina, em dezembro de 1950, o missionário Clem Hardy convenceu os membros da Junta Executiva da Missão que a cidade de Belém oferecia melhores condições, principalmente por sua localização e facilidade de acesso, tanto para os alunos quanto para os professores que ali desejassem atuar. Com a significativa participação do então Secretário Regional da Junta de Richmond, Dr. Everett Gill Jr., em 1953, a Missão Batista Equatorial homologou a recomendação da Junta Executiva para a fundação do Instituto Bíblico em Belém. Foi escolhido o missionário americano Paul Sanderson como seu organizador e primeiro diretor. O Instituto Teológico Batista Equatorial (ITBE) iniciou suas atividades educacionais em 02 de agosto de 1955 em um prédio alugado ao lado da Primeira Igreja Batista do Pará. As aulas aconteciam dois dias por semana. Inicialmente o ITBE funcionou com apenas dois professores de Bíblia (Pr. Paul Edwin Sanderson e Pr. Harold Schaly) e uma professora de português (Ester Moraes). Os primeiros alunos foram três evangelistas da Convenção Estadual Paraense e um membro de uma igreja do interior que aspirava ser evangelista.
A segunda turma do ITBE iniciou em 2 de março de 1956 com sete alunos: Francisco Guedes de Araújo, de Fortaleza (CE); Manuel Teixeira Jorge, de Santarém (PA); Pedro Batalha Rego, do Amazonas; Raimundo Silvestre Barbosa, de Castanhal (PA); Hermógenes Dutra Lopes, do Pará; Alexandre Silva, de Barcarena (PA); e Orlando Figueiredo (PA). O missionário Paul Sanderson esteve à frente do ITBE até 1956. Em 1957, após concluir o seu curso de línguas em Campinas (SP), o Dr. Thomas Halsell chegou a Belém para assumir a direção do Instituto. Prevendo-se grande influxo de alunos ao ITBE e a necessidade de melhores instalações, ainda em 1957 adquiriu-se um terreno triangular, com 238 X 309 X 163 metros, no Km 0 da BR 316, onde atualmente está localizado o STBE.
Em 1958 iniciaram-se as obras de construção das novas instalações do ITBE. O complexo incluía: capela, salas de aula, gabinetes administrativos, internato masculino e refeitório. Em 1960 foi também concluído o dormitório feminino. As obras de construção do novo campus estenderam-se até 1961. Neste ano, o novo complexo já abrigava 10 seminaristas e uma professora residente. A Biblioteca foi construída e organizada em homenagem ao missionário John S. Oliver, que morreu em um acidente de avião no trecho de Belém a Teresina. O número de alunos ingressantes cresceu, somando um total de quarenta e nove, em 1963. Visando atender as demandas da época, o ITBE passou a oferecer dois cursos: o Básico, para alunos que possuíam apenas o primário; e o Abreviado de Teologia, para aqueles que já tinham o Ginásio ou equivalente. Além de teologia, outros cursos também passaram a ser ofertados, tais como Educação Religiosa e Música Sacra.
No ano de 1964 o Dr. Thomas Hansell pediu demissão do cargo de diretor do ITBE, solicitando que a função fosse ocupada por um brasileiro devidamente capacitado. Neste ano, o pastor Jussiê Gonçalves de Souza, recém-formado nos EUA, assumiu como o primeiro diretor brasileiro. Durante sua gestão, o pastor Jussiê de Souza foi incansável na luta para transformar o ITBE em um seminário maior, enfrentando vários opositores na ocasião. Porém, muitos irmãos, pastores, missionários e professores também o apoiaram nesta empreitada. Com este intento foi elaborado uma matriz curricular e contratados professores que atendessem às novas exigências. Assim, na assembleia anual da Convenção Batista Brasileira (CBB) de 1965, em Niterói, o ITBE foi aceito como a terceira instituição teológica da CBB, transformando-se no Seminário Teológico Batista Equatorial (STBE). Neste ano passou a ser oferecido o curso de bacharelado em teologia. A fim de poder receber e abrigar alunos externos casados foi adquirido um terreno para a construção do residencial Mary Moon, localizado em frente ao prédio do STBE, no lado oposto da Rodovia BR 316.
O STBE passou por várias melhorias ao longo dos anos, tanto em sua estrutura física quanto em sua proposta educacional. Novos cursos passaram a ser oferecidos à comunidade evangélica. A modalidade de cursos a distância tinha o objetivo de atender às demandas de formação de obreiros na vasta região norte. Além disso, o STBE promovia conferências teológicas que visavam o envolvimento com a comunidade e a formação continuada dos ex-alunos e demais líderes evangélicos da região.
Com a saída do pastor Jussiê de Souza, em 1971, o missionário James Loyd Moon, que já atuava como deão acadêmico, foi eleito o novo reitor do STBE. Em 1978 o Seminário recebeu o reconhecimento da Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE). Ao completar seu vigésimo quinto aniversário, o STBE já possuía 116 alunos matriculados e vinte professores. Em 1985 o Seminário contava com 188 alunos matriculados, representando 18 Estados brasileiros. Neste ano, o curso de extensão atingia a marca de 328 alunos, tendo 19 formandos.
Em março de 1987, o então capelão Dr. Orman Wayne Gwynn, assumiu a reitoria do STBE. Ele permaneceu na direção da instituição até novembro de 1989. Em fevereiro deste ano, após um longo trabalho de preparação, iniciou-se o Mestrado em Teologia (livre) a candidatos que já possuíssem uma graduação.
O Dr. John Landers assumiu a reitoria do STBE em março de 1990, tendo que retornar aos EUA um ano depois. Com sua saída, houve uma sequência de interinidade e de reitores que permaneceram pouco tempo na gestão da casa: Pr. Shirleyton G. do Nascimento (1991), Pr. Jonas C. Ribeiro (1992-1993) e Pr. Gilvan Barbosa Sobrinho (1993-1994). Estes foram tempos difíceis, pois houve uma redução brusca nos investimentos, uma vez que os recursos vindos da Junta de Richmond foram cortados. Além disso, com a saída gradual dos professores americanos, professores brasileiros tiveram que ser contratados com recursos do próprio Seminário. Este período foi marcado por instabilidade na administração do STBE, o que contribuiu para a saída de vários professores.
Em 1995 a professora Ceni Gome Rangel foi convidada e assumiu a reitoria do STBE, tornando-se a primeira mulher a liderar uma instituição teológica na história dos batistas brasileiros. Através de um trabalho de parcerias, sua gestão foi voltada principalmente para a reestruturação física do STBE. Durante a sua gestão foi construído o prédio administrativo, o auditório e a nova biblioteca. Neste período, deu-se início o processo de credenciamento da Instituição e o pedido de reconhecimento do curso de bacharelado em teologia, junto ao MEC. A profa. Ceni Rangel permaneceu como reitora da casa até o ano de 1999.
Em 2001 assumiu a reitoria do STBE o Pr. Gilvan Barbosa Sobrinho. Ele permaneceu
como reitor da casa até 2008, tendo deixado esta função para pastorear a Primeira Igreja Batista de Teresina. Durante sua gestão, o STBE obteve, em 2002, o credenciamento do Ministério da Educação e Cultura (MEC), como uma Instituição de Ensino Superior (IES), tornando-se o mantenedor da Faculdade Teológica Batista Equatorial (FATEBE). No mesmo ano, o Curso de Bacharelado em Teologia foi autorizado por meio da Portaria MEC nº 3.532, de 13/12/2002. Em 2009, por meio da Portaria MEC nº 384 de 19/03/2009, o Bacharelado em Teologia obteve o reconhecimento junto ao MEC. A visão empreendedora de seus gestores levou a FATEBE a ser a primeira instituição da CBB a oferecer um curso de Bacharelado em Teologia reconhecido pelo MEC. Além disso, ela tornou-se também a primeira IES a oferece um curso de Teologia reconhecido pelo MEC na cidade de Belém.
Após a saída do Pr. Gilvan Barbosa Sobrinho, em 2008, assumiu a reitoria da FATEBE o Dr. David B. Riker. Com seu rigor teológico e zelo doutrinário, o Dr. Riker investiu principalmente no alinhamento teológico da FATEBE e na vida piedosa e devocional de seus alunos e professores. Os cultos e a prática da pregação expositiva na capela se tornaram sua principal marca.
Com a saída do Dr. David B. Riker, em julho de 2016, o Pr. Sócrates Oliveira, então diretor executivo da CBB, assumiu interinamente a direção geral da FATEBE, permanecendo na função até a posse do Pr. Benildo Veloso, como o novo reitor da casa. O Pr. Benildo Veloso já atuava a mais de 20 anos como professor e depois como capelão da FATEBE. Sua posse como novo diretor geral aconteceu na Convenção anual da CBB ocorrida em Belém (PA), em abril de 2017. Seu grande desafio como gestor é sanar os problemas financeiros da IES e planejar novos investimentos para a retomada de seu crescimento.
Como mantenedor da FATEBE, o STBE é dirigido por um Conselho Diretor, composto por oito membros e dois suplentes. Estes são eleitos pela assembleia Geral da CBB, renovados bianualmente. Dentre outras funções, o conselho tem a prerrogativa de eleger e demitir o diretor geral do STBE. Ele é composto por membros de igrejas batistas filiadas à CBB, residentes nas regiões norte ou centro-oeste, que não sejam alunos ou funcionário do STBE ou entidade por ele mantida.
O STBE tem mais de 60 anos de tradição na formação de obreiros de quase todos os Estados do Brasil e de outros países, tais como Angola e Moçambique. Atualmente a FATEBE possui uma excelente localização na entrada de Belém, ao lado do Shopping Castanheira. Além da graduação em teologia, oferece diversos cursos de pós-graduação e extensão. Sua estrutura e projeto pedagógico habilitam seus alunos a se engajarem em atividades de missão, de ação pastoral, de ensino religioso, de pesquisa teológica, de práticas artísticas e cúlticas e de ações com responsabilidades político-sociais.
REFERÊNCIAS
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BUZA, Alfredo Gabriel. Os Batistas em Belém do Pará: uma contribuição histórica sobre os batistas em Belém e arredores. Belém: STBE, 2000. (Trabalho de Conclusão de Curso).
FERREIRA, Ebenézer Soares (Org.). ABIBET: XIV Conferência Teológica: teses, histórico, informações. Rio de Janeiro: 2002.
MEIN, David (coord.). O que Deus tem feito. Rio de Janeiro: JUERP, 1982.
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA EQUATORIAL: O Mantenedor. Disponível em http://www.fatebe.edu.br/a-faculdade/o-mantenedor/. Acessado em 06/04/2017.
SILVA, Cleni da. Educação Batista no Brasil. Análise histórica de sua implantação no Brasil e de seus desafios no contexto atual. Rio de Janeiro: JUERP, 2004.
Pr. Dr. José Carlos de Lima Costa