O CRISTÃO E O ABORTO
A Assembleia Nacional francesa, em 30 de janeiro de 2024, aprovou por um placar de 493 votos a favor e apenas 30 contrários a inclusão do direito de “liberdade garantida” a interrupção voluntaria da gravidez na constituição francesa. Alteração essa que ainda será debatida no senado francês, mas com grande chance de aprovação.
Em outras palavras, a França deu mais um passo para tornar a prática do aborto um direito pétreo e indiscutível em todo o seu território nacional. Infelizmente este não é um caso isolado. Na América Latina podemos citar o caso da Argentina, em que a interrupção voluntaria da gestação até a 14ª semana foi legalizada em 2021 e a Colômbia que em 2022 se tornou o quinto pais do continente a legalizar o aborto.
No Brasil, tragicamente esta pauta está em corrente debate no Supremo Tribunal Federal sobre a relatoria da Ministra Rosa Weber, que em setembro de 2023 apresentou voto favorável para a descriminalização do aborto até a 12ª semana. Toda essa movimentação global, empurrada pelos movimentos feministas, revela o que parece ser um caminho sem volta: o crime, o assassinato, o pecado está sendo homologado e celebrado pelas nações.
UMA PERGUNTA PARA SER RESPONDIDA
Neste ponto, todos cristãos deveriam se fazer uma simples pergunta: e nós cidadãos do reino de Deus como devemos nos posicionar diante deste avanço? Esclareço, que o intento deste texto é tentar responder de forma sumarizada esta pergunta e comunicar verdades para aqueles professam ser cristãos, pois aos demais é muito provável que as próximas palavras sejam de pouca ou nenhuma utilidade. Não intento responder esta questão por meio de argumentos políticos, filosóficos ou sociais, apesar de haver inúmeros argumentos validos em cada uma dessa área contra a prática abortiva. Mas sim aconselhar biblicamente por meio de um breve silogismo. Vamos lá.
Premissa A: A Bíblia é a palavra de Deus.
A bíblia não contém, mas é a palavra suficiente, inerrante, infalível, autoritativa do Deus Trino, como Paulo escreveu ao seu amado discípulo Timóteo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2Tm 3.16–17)
Premissa B: Biblicamente a vida começa no embrião.
Segundo a palavra de Deus, quando o sêmen masculino encontra o ovulo feminino formando o embrião, já estamos diante de um ser humano vivo criado a imagem e semelhança de Deus. O salmista Davi quando da composição do salmo 139, descreveu muito bem a realidade pessoal do seu ser desde o ventre materno: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Digo isso com convicção. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir. (Sl 139.13-16)”.
É curioso observar como o salmista, inspirado pelo Espírito Santo de Deus, salienta possuir personalidade já no período embrionário, pois os olhos de Deus não enxergaram um embrião, um amontoado de células como defendem os abortistas, mas o texto diz que Deus viu o meu embrião, ou seja, o embrião da pessoa chamada Davi.
Premissa C: Matar é pecado.
É possível que dentre todas as premissas essa seja a mais natural e menos questionada de forma geral. É comum na grande maioria das culturas humanas, em todas as épocas e lugares, a compreensão da morte como algo indesejável e a vida como um bem a ser protegido e preservado. Não é à toa que em toda organização social humana se cria aparatos para proteção da vida de seus respectivos integrantes. Como instituições de proteção, tais como exércitos, policiais, seguranças.
Na mesma direção, também se desenvolve nos ajuntamentos humanos práticas de preservação da vida por meio de cuidados com a saúde, tais como unguentos, curandeiros, médicos, hospitais etc. Esta necessidade e desejo natural humano por sobrevivência, é observável pela reprovação moral universal de crimes contra a vida em toda sociedade humana organizada na história e certamente, este padrão universal reflete a lei gravada no coração do homem, conforme Paulo advoga em Rm 2.14-15. Com isso não há dúvidas que matar, tirar a vida de alguém, é pecado e consequentemente desagrada a Deus, como prevê literalmente o sexto mandamento do decálogo: “Não matarás.” (Ex 20.13).
Premissa D: O crente deve obedecer a palavra de Deus.
Uma compreensão básica é necessária para todo aquele que professa o cristianismo é que: sem obediência à vontade divina é impossível agradar a Deus. O apóstolo João, em sua primeira carta, combate um tipo de proto-gnosticismo, cujos proponentes influenciados pela cultura greco-romana defendiam possuir um conhecimento(teórico) extraordinário que lhes garantia o favor de Deus. Em ataque direto contra esses mestres o apóstolo do amor arremata: “Aquele que diz: “Eu o conheço”, mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele.” (1Jo 2.4).
Mesmo considerando a particularidade do contexto, neste ensino joanino há um princípio geral aplicado a todos sem exceção: não é possível conhecer (relacionar-se), amar ou glorificar a Deus sem obedecer aos seus comandos, como o mesmo apóstolo destaca em seu Evangelho: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele”. (Jo 14.21)
UMA CONCLUSÃO LÓGICA.
Partindo destas 4 premissas, que deveriam ser inquestionáveis a todo que se afirma cristão, a conclusão lógica é que eu devo como discípulo de Jesus, ser contra a prática do aborto e toda essa pauta abortiva, pois claramente há uma grande contradição em apoiar a descriminalização de assassinato de crianças e ser discípulo do Autor da Vida.
Dito tudo isto, a boa notícia para aqueles que afirmam ser cristãos e ainda defendem pautas abortivas é que Jesus Cristo está sempre de braços abertos para receber pecadores e pode te perdoar se você se aproximar dele humildemente, com fé e verdadeiro arrependimento. De outro lado, para você que insiste em argumentar a favor dessa incoerência, lembro de uma grave advertência bíblica: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e inteligentes em sua própria opinião!” (Is 5.20-21).
Pr. André Vianna de Araújo. Ministério da Juventude da PIB do Pará
Foto Ilustrativa: site da PIB do Pará Disponível em: “https://pibpa.org.br/pornografia-como-vence-la/#prettyPhoto”