AS RUAS PERFUMADAS DO BAIRRO DO REDUTO E O PERFUME DE CRISTO
Havia uma antiga fábrica em Belém do Pará, localizado na Travessa Quintino Bocaiúva, no bairro do Reduto que funcionou até meados de 2019. Essa fábrica foi iniciada na década de 1930 por dois primos portugueses, Antônio Lourenço da Silva e Mário Santiago. Fundaram em pleno coração da Amazônia -a Perfumaria Phebo-, com a visão de criar uma marca de perfumaria de altíssima qualidade, com fragrâncias marcantes e originais. O nome Phebo -o Deus do Sol da mitologia grega- que irradia calor e energia, foi escolhido para simbolizar o nascimento de uma nova era da perfumaria brasileira. O ambicioso sonho era criar um sabonete brasileiro que fosse tão bom quanto os sabonetes ingleses e franceses, considerados na época os melhores do mundo. Desenvolveram o primeiro produto da marca, o sabonete Odor de Rosas, um produto paraense de maior aceitação no mercado. Diversas essências naturais da região foram pesquisadas, até obterem uma fórmula que combinava essência de pau-rosa (Aniba rosaeodora), árvore encontrada na floresta Amazônica, que pode atingir até 30 metros de altura e tronco de dois metros de diâmetro, que produz um óleo que é utilizado como essência na fórmula de vários perfumes e também do sabonete Phebo, combinado com mais de uma centena de outros ingredientes, como sândalo, cravo da Índia e canela de Madagascar, entre outras. Com formato oval, transparente e escuro, e de fragrância agradável, se tornou o primeiro sabonete com padrão internacional de perfumaria do mercado brasileiro.
No início, o sabonete Phebo era produzido utilizando um tambor de 100 litros. A produção era feita de maneira artesanal, a família fabricava o sabonete em casa, em um fogão a lenha. Na época, o sabonete demorava cerca de seis meses para ficar pronto. O sistema de secagem exigia muito tempo e era necessário um longo período na estufa para ficar totalmente seco. O sabonete Phebo, Odor de Rosas, tornou-se uma referência em vendas no Brasil e no mundo. O crescimento da Perfumarias Phebo S/A foi conquistado a partir dos produtos-chave: o sabonete Phebo e a colônia Seiva de Alfazema.
Lembro-me bem, quando adolescente eu andava ou passava de ônibus próximo daquela fábrica no bairro do Reduto, o cheiro agradável de rosas, sândalo, patchouli começava a se sentir pelo menos dois quarteirões antes. Muitas pessoas chamavam aquela área urbana de “as ruas cheirosas de Belém”. Quando chovia e transbordava de água as ruas, o perfume saia até dos bueiros. É conhecido que na lavagem dos tachos imensos da essência, as operárias da fábrica usavam toalhas para embeber os resíduos do sabonete Phebo, para aproveitar e não desperdiçar aquele perfume. Quando o carro da Phebo passava pelas ruas de Belém, entrava aquele cheiro do sabonete dentro das casas. Depois que a fábrica foi desativada em 2019, demorou ainda aproximadamente dois anos para que a fragrância do sabonete Phebo desaparecesse do ambiente ao redor da fábrica no bairro do Reduto.
A ciência Moderna que se ocupa do estudo dos odores e aromas é a Osmologia. A principal diferença entre perfume e colônia é a concentração da essência. Os perfumes contêm entre 10 a 25% de óleos essenciais na sua composição. Têm aromas mais intensos e com fixação na pele de até doze horas. As colônias, tem uma concentração menor de óleos essenciais, cerca de 5%. São fragrâncias com cheiros mais delicados e suaves, sua fixação na pele costuma ser de duas horas.
A origem da palavra “perfume”, tem a origem no latim “per fumum” que significa “através da fumaça ou do fumo”. Os perfumes eram usados para atrair os deuses e amenizar sua fúria. No sacrifício do Império Romano era a fórmula usada para agradar os deuses para que ficassem dispostos para com o sacrificante. Os sacrifícios eram queimados para que sua essência chegasse até eles.
Em 2 Coríntios 2:14-16, o apóstolo Paulo fala com muita propriedade do triunfo romano (v.14). Paulo utiliza-se do conhecimento e vivência da igreja de Corinto, para ensinar-lhes através dessa alegoria, algo profundo para a vida espiritual. A palavra triunfo tem relação com celebrar um triunfo ou presidir uma procissão triunfal. Era um hino que se cantava nos desfiles de celebração das grandes vitórias dos generais romanos.
Na ideia de Paulo, nós somos o bom perfume de Cristo que deve exalar por todos os lugares aonde o Senhor estiver passando, aonde caminhar a procissão e o desfile de Deus. E nesta procissão da vida precisamos exalar o bom perfume de Cristo e perfumar sua essência em três direções:
NA DIREÇÃO DE DEUS (v.14)
Que coisa séria, que compromisso tremendo! A primeira direção que o aroma segue são as narinas de Deus. No entendimento dos sacerdotes, quando eles estavam desfilando pelas ruas de Roma e sacudindo o incensário, eles acreditavam, diz os historiadores, que aquele incenso estaria indo para as narinas dos deuses a fim de agradá-los.
Se você for a uma fábrica de perfume vai encontrar tambores, tonéis da essência do perfume. São óleos densos, fluídos, essência da matéria prima. Se você emergir a mão num desses tonéis de essência e passar no seu corpo, ficará com esse perfume, com essa essência, por vários dias ou até meses impregnada em você, porque a essência não é algo ralo e nem está misturado com água e álcool que evapora e acaba em menos de doze horas.
Precisamos ser perfumes que alegram e perfumam na direção de Deus. E como isto se processa? Através da oração e meditação da Palavra de Deus. Nós precisamos ser essências para Deus. O que nós temos sido? Muitas vezes um perfume ralo, uma fragrância quase imperceptível para Deus.
Se a primeira direção como o perfume de Cristo são as narinas de Deus, como uma vida em sacrifício suave, em cheiro suave ao altar do Senhor, digo, que só vamos deixar de ser perfume ralo, fazer a diferença neste tempo, nesta geração, na família, na igreja, na vizinhança, quando resgatarmos em nossa vida o hábito diário pela oração. Hoje nós oramos mal e oramos pouco. Há pessoas de outras religiões que valorizam mais a oração do que nós, oram às vezes mais de cinco vezes por dia. Uma das coisas que mais incomoda Satanás é quando o povo de Deus ora ao Senhor. A oração não pode ser para nós apenas um kit de reparos ou de primeiros socorros. Deus é o poder por trás da oração. Sem Deus, a oração não tem poder nenhum. Mas quando cremos em Deus, pela graça e poder de Deus, a oração em nome de Jesus tem poder para: curar (doenças físicas, psicológicas e espirituais), libertar (da opressão espiritual do diabo, do pecado e de vícios), fortalecer (para vencer as dificuldades), perdoar (a oração de confissão e arrependimento nos traz o perdão de Deus e também nos ajuda a perdoar outras pessoas que nos machucaram.
É preciso resgatar urgente em nossa vida o retorno da oração e a meditação na Palavra. Muitos têm olhado para a bíblia como um livro e dizem “tô contigo e não abro” ou para o celular onde tem a bíblia digital e dizem “tô contigo e não acesso”.
Se não queremos ser um perfume ralo, é preciso resgatar essas duas coisas: a oração e a meditação diária da Palavra de Deus. Quando se é essência para as narinas de Deus se vive uma vida de compromisso com Deus e não com pecado. Somos o perfume para as narinas de Deus, mas somos o bom perfume para as narinas dos salvos.
NA DIREÇÃO DOS SALVOS (v.15,16))
Paulo relembra que aquela comunidade sentia o cheiro que os sacerdotes deixavam exalar dos seus incensários. O cheiro para eles era o cheiro da vitória, o cheiro do triunfo, da certeza que a batalha havia sido vencida. Nós precisamos entender que como perfumes de Cristo é preciso entregar aos nossos irmãos o nosso ombro amigo, a nossa amizade, a nossa confiança, falar palavras de bênção, ânimo e conforto em tempos difíceis. Se nós não somos benção uns para os outros, não vale a pena ser igreja. Igreja só tem sentido quando nós somos bênçãos uns para os outros. Chega de individualismo, chega de comparação e malícia. A comparação é ladrão de alegria em nossos relacionamentos. É preciso exercer o perdão na igreja. Nós precisamos estender a mão ao cansado e aflito, sermos ombro uns para os outros. Se nós não vivermos esta essência entre nós, se não somos o perfume entre nós, seremos pedra de tropeço, viveremos uma relação de competição, de maledicência e de desânimo.
Paulo exorta em Romanos 12:10 – “Amem uns aos outros com amor fraternal. Quanto à honra, deem sempre preferência aos outros”. O amor sobrenatural dos cristãos é um dos principais atrativos entre aqueles que querem saber quem é Jesus. Somos perfume de Cristo as narinas de Deus, perfume de Cristo as narinas dos salvos, mas também perfume de Cristo as narinas dos perdidos.
NA DIREÇÃO DOS PERDIDOS (v.15,16)
Naquele desfile de Roma, as pessoas que estavam ladeando o desfile, gritavam: “Triunfo! Triunfo, triunfo”, mas estavam também naquela procissão acorrentados alguns prisioneiros, de cabeças baixas, algemas nas mãos, que eram arrastados por aquelas ruas e eles também estavam sentindo aquele perfume. Aquele cheiro que alcançava as narinas dos deuses no entendimento dos romanos vitoriosos, era o mesmo cheiro que alcançava as narinas dos perdidos. Nós somos com Deus o bom perfume de Cristo, perfumar significa criar ao seu redor um clima sadio, acolhedor, alegre e contagiante! Perfume, exale o amor de Deus em sua vida.
O perfume na sua essência tinha o mesmo poder em três dimensões e se projetava em três direções. Aqui está então, o centro, o âmago da nossa reflexão. O fato de sermos perfumes de Cristo as narinas dos perdidos, há de nos convencer que enquanto não formos essências para Deus, perfume com aqueles que são os nossos irmãos, nós somos despreparados para sermos perfumes as narinas dos incrédulos. Quando somos cuidados e abençoados, desejamos também cuidar e abençoar outros.
Hoje nas ruas do bairro do Reduto em Belém não existe mais aquele perfume agradável e inconfundível. Porém, a igreja do Senhor Jesus Cristo continua andando pelas ruas, pelos bairros e cidades perfumando com o bom perfume de Cristo. Somos suas mãos curando e abençoando as pessoas. Somos seus olhos a ver os aflitos com compaixão e graça. Somos sua boca proclamando as boas novas de salvação. Ao longo da estrada da nossa vida é preciso que este aroma precioso de liberdade, vida e salvação, seja compartilhado com confiança, alegria e esperança.
Por onde quer que passemos, possa o mundo sentir o perfume de Cristo em nossa vida cristã. Que esse perfume seja tão marcante, que quando já não estivermos naquele lugar, esse perfume permaneça ali, através das boas influências e marcas que deixamos.
Eu tenho certeza que o Espírito Santo pode trabalhar em você e resgatar coisas simples em sua vida, como a oração e a meditação da Palavra de Deus diariamente. Tenho certeza de que você vai se tornar essência do Senhor, não um perfume ralo, insignificante, mais que vai com a sua vida, exalar as narinas do nosso Deus, ser benção na sua igreja e fazer diferença perfumando em todos os lugares que você passar, e especialmente dentro de sua própria casa e sociedade. Deus o abençoe, amém!
Pr. Ebenézer da Silva Barros, pastor batista. Missionário Regional da Convenção Batista do Pará na Metropolitana 1 e Coordenador do Projeto Radical COBAPA